Se há uns anos alguém dissesse que eu estaria a estudar Engenharia Biomédica, eu provavelmente engasgava-me com o lanche, ria-me até perder o fôlego e dizia: “Sim, claro, e a seguir vou para astronauta!”. Depois, pegava no comando da televisão, aumentava o volume e afogava essa ideia absurda num episódio da minha série favorita.

Mas a vida, roteirista de novela mexicana com um senso de humor questionável, decidiu brincar comigo. Se há algo mais difícil do que os exames finais é explicar ao meu eu do passado que sim, isto é real – estou exatamente no curso que tinha descartado logo de início.

Eu tinha tudo milimetricamente planeado, um plano genial e infalível: Medicina, primeiro lugar, Gestão, segundo, podem ver que sou uma pessoa decidida! (Faz todo o sentido colocar estas duas lado a lado, como quem escolhe entre sushi e feijoada ao jantar).

Medicina, o meu grande sonho, já me imaginava a salvar vidas, com um estetoscópio ao pescoço e um ar profissional, do outro, a minha paixão por números, não aquele “dois mais dois”, mas sim dos gráficos e estatísticas que achava chiquérrimo.

Vocês perguntam: “Então, como é que foste parar à Engenharia?” Excelente pergunta, eu também gostava de saber. Talvez um erro na matriz do destino, um bug na simulação!

Engenharia? Eu? Nunca na vida! Só se me pagassem… não, nem assim! Quando alguém mencionava, eu reagia como se tivessem sugerido viver numa caverna sem Wi-Fi.

Na minha cabeça, engenharia era coisa de gente que gostava de sofrer voluntariamente, engenheiros eram como criaturas misteriosas, debruçadas sobre máquinas prestes a explodir, com gráficos incompreensíveis numa mão e um café frio na outra.

Com o tempo, comecei a perceber que medicina não era aquilo que eu imaginava. Salvar vidas? Espetacular. Mas passar os dias a olhar para ossos e órgãos como se fossem peças de um puzzle? Hmm… de repente, não parece assim tão glamoroso. A gota d’água foi quando descobri que teria de decorar o nome de todos os ossos do corpo humano, sendo eu uma pessoa que mal consegue lembrar-se do próprio aniversário sem um lembrete no telemóvel. Medicina? Risca.

Gestão? Não desisti dos números, adoro estar rodeada deles, o problema é que gosto de números como gosto de pizza: em boas fatias, com tempo para saborear, a ideia de passar o dia inteiro sentada numa secretária, fez-me perceber que essa não era a melhor escolha.

Eu estava a entrar em pânico, todas as certezas que eu achava que tinha desapareceram mais rápido que a bateria do meu telemóvel, enquanto eu estava a entender o que fazer da vida, todos os meus amigos já sabiam para que cursos queriam ir, enfermagem, engenharia química e biologia, ciências da visão… e eu? Eu apenas pensava, “Sei lá! Talvez astronauta…”

Quando precisamos de conselhos, a quem é que pedimos? Aos amigos? Não, porque, de repente, parecia que todos se tinham formado em Engenharia da Persuasão, e eu era recebia com respostas unânimes: “Vai ser engenheira!” A quem é que vamos recorrer? Às mães! Elas têm sempre a solução para os problemas da vida, desde a escolha de cursos até à melhor maneira de remover manchas de chocolate, vocês conseguem adivinhar a resposta… “Engenharia Biomédica… Tem tudo a ver contigo, além disso podes ter bases de medicina como tu sempre quiseste!”. Por mais que negasse eu sabia que a minha mãe estava certa (como sempre), e que a vida estava a empurrar-me para um determinado curso.

O curso não era a minha única preocupação, eu queria ficar na minha cidade, por isso todas as minhas escolhas caíram sobre uma única universidade, com uma pontinha de medo, coloquei Engenharia Biomédica em primeiro lugar e Gestão em segundo.

Quando o e-mail finalmente chegou, eu demorei horrores para abri-lo, e então, lá estava ele: “COLOCADA EM ENGENHARIA BIOMÉDICA“. A sensação foi um grito seguido de um frio na barriga de quem acabou de ganhar um Óscar, a felicidade era genuína, e o melhor de tudo? Abraçar a minha mãe, que estava lá com aquele sorriso de “Eu já sabia que ia ser assim” e ouvir o mesmo dos meus amigos logo a seguir.

Neste percurso, que ainda está longe de acabar, percebi que somos capazes de realizar coisas incríveis! E, ao longo do caminho, as pessoas que realmente importam estão sempre lá, seja com um conselho certeiro ou aquela piada infalível.

Mas nem tudo são flores. Vamos cruzar-nos com pessoas que nos magoam e, surpreendentemente, essas pessoas também têm um papel importante, elas ensinam-nos a ser mais fortes, a levantar a cabeça e a seguir em frente com mais garra.

Todos temos uma estrelinha connosco, um motivo, uma paixão, ou alguém especial que nos inspira a continuar, mesmo nos dias mais difíceis.

A estrada pode ser longa e cheia de curvas, mas seguimos em frente, sempre, porque dentro de cada um de nós há um guerreiro pronto para enfrentar qualquer batalha.