Antes de iniciar a minha e, posteriormente, a tua reflexão sobre um Gap Year, deixa-me contextualizar este conceito. Trata-se de um período, geralmente de um ano, em que uma pessoa decide interromper o ciclo de estudos ou o percurso profissional para se dedicar a experiências pessoais, descobrir novas culturas, estabelecer contactos, fazer voluntariado ou outras atividades que contribuam para o seu autodesenvolvimento.
O intuito não é ficar sentado no sofá, mas adquirir novas formas de pensar e expandir horizontes! As opções são muitas e não existe uma melhor ou pior, o que importa é que faça sentido para ti e contribua para o teu futuro.
Decidi começar pelos aspetos negativos, pois acredito que os prós que irei mencionar a seguir te possam motivar e convencer a tirar um Gap Year.
Fatores Contra
➡️Atraso nos estudos
Enquanto a maioria dos teus colegas termina o décimo segundo ano e ingressa de imediato na universidade, tu passarás um tempo afastado e entrarás na universidade um ano depois. Consequentemente, entrarás no mercado de trabalho com algum delay e demorarás um pouco mais a conquistar o teu lugar no mercado de trabalho.
➡️Investimento e tempo malgastos
É possível tirar um ano sabático assim que se conclui a formação académica ou até mesmo após ter uma carreira consolidada. A diferença é que, nesse caso, já terás decidido o caminho a seguir com a escolha da tua graduação, o que poderá fazer com que estejas a investir tempo e dinheiro numa experiência que pode atrasar a tua formação.
Aspetos a favor
➡️Melhorar o desempenho académico
Embora muitos afirmem que vais atrasar os teus estudos, esta pausa pode ajudar-te a decidir sobre a área de estudos a seguir, permitindo explorar interesses que não foram considerados antes. Além disso, poderás recomeçar as aulas mais “fresco”, concentrado e motivado para o teu desempenho.
➡️Valorização no currículo
As experiências adquiridas durante um Gap Year, como trabalho voluntário ou estágios, podem enriquecer o teu currículo e impressionar futuros empregadores. A capacidade de interação social e inteligência emocional são ferramentas importantes que poderás desenvolver, aumentando exponencialmente a tua empregabilidade, seja através da comunicação intercultural, resolução de problemas ou adaptabilidade.
➡️Ficar fluente numa língua
A imersão em países de língua estrangeira é uma excelente maneira de aprender ou aperfeiçoar um novo idioma. Saber outra língua é uma das habilitações que te dará pontos no futuro, tornando-te mais “empregável” e aumentando a tua confiança. Poderias simplesmente aprender uma língua numa escola, mas qual é a graça disso quando podes falar o idioma a toda a hora enquanto socializas com os locais e viajas pelo mundo?
➡️Adquirir consciência financeira
Quando tens de te organizar com um orçamento enquanto viajas pelo mundo, não tens outra escolha se não te tornares um perito em controlar custos, poupar no essencial e reservar dinheiro para várias atividades. Ser responsável com o dinheiro e com os orçamentos acelera o teu crescimento como adulto enquanto percorres o globo!
➡️Colecionar as maiores aventuras da tua vida
É uma oportunidade fantástica para recarregar energias e criar histórias únicas. Certifica-te de que desfrutas de cada segundo, sais da tua zona de conforto e exploras novas culturas e atividades. Viajar, fazer voluntariado ou desenvolver soft skills moldam para sempre a tua identidade e oferecem uma perspetiva mais ampla sobre a vida.
Deixo-te agora alguns exemplos que podem motivar e inspirar a tua decisão:
Raquel Lucas:
1. Já definiste objetivos e metas para este ano de pausa?
-“O que mais queria no meu Gap Year era trabalhar para ganhar algum dinheiro, explorar a minha criatividade e focar na minha saúde mental. Viajar também estava nos planos, mas com a pandemia, essa opção caiu por terra. Tentei até criar um podcast com um amigo, mas a ideia nunca se concretizou totalmente. A maior meta era, sem dúvida, investir o meu tempo em atividades que trouxessem alegria e satisfação, ajudando-me a abstrair da faculdade.”
2.Quais são os principais desafios que enfrentaste até agora?
-“Ui, pergunta fácil e difícil ao mesmo tempo. O maior desafio foi, sem dúvida, organizar e aproveitar o tempo da melhor forma, tendo em conta todos os planos que tinha e o meu estado de saúde mental. Cheguei a não saber o que fazer com tanto ‘tempo livre’. Mesmo com um trabalho part-time que me dava uma certa autonomia, caí muitas vezes na tentação de ficar a ver filmes e séries, especialmente no contexto da pandemia. Além disso, motivar-me a explorar novos assuntos e a minha criatividade foi uma dificuldade que não imaginava enfrentar de forma tão abrupta. Enchia mais facilmente a minha cabeça com pensamentos intrusivos do que com iniciativas que pudessem trazer algo positivo.”
Beatriz Costa
1.O que te motivou a tirar um Gap Year?
– “A vontade de fazer uma pausa para ponderar novos objetivo e metas. Aproveitar uma fase de transição para desfrutar e ter novas experiências.”
2.Qual foi a experiência mais memorável?
– “Passar uma temporada no Sudoeste Alentejano, longe da minha zona de conforto, num ambiente tranquilo que permite desacelerar e viver a vida com calma.”
3.Recomendarias esta experiência a alguém?
– “Para quem tiver a possibilidade de fazer um gap year, é uma excelente experiência. Recomendo, contudo, uma certa maturidade que é necessária quando se usufrui deste tipo de liberdade.”
Alice Leite
1.Como reagiram as pessoas à volta perante a tua decisão?
– “A minha família mais próxima apoiou-me muito. Inicialmente, ficaram preocupados porque fiz voluntariado internacional, mas como foi através de uma organização credenciada, acabaram por ficar mais relaxados. No entanto, família mais alargada, especialmente os mais velhos, consideraram uma decisão estranha e não a compreenderam totalmente no início.
2.Qual foi a melhor lição que o Gap year te trouxe?
– “Não há uma regra ou um caminho único e padronizado para a nossa vida (como estudar, ir para a faculdade, trabalhar, casar, ter filhos, etc.). Podemos construir o nosso próprio trajeto à nossa maneira e nunca é tarde para arriscar.
3.Sentes que perdeste ou podes vir a perder motivação para continuar os estudos?
– “No meu caso, estou a fazer esta pausa depois de concluir a licenciatura e o mestrado, e não pretendo continuar os estudos. Já ponderei fazer uma pausa entre a licenciatura e o mestrado, mas optei por não o fazer na altura, principalmente devido ao receio dos meus pais, que me aconselharam a seguir para o mestrado. Não sinto pressão interna, mas há sempre uma pressão externa.”
4.O que fazes para ocupar o teu tempo?
– “Acho que um Gap Year deve ter sempre um propósito. No meu caso, não estou à procura de trabalho porque decidi focar-me noutras áreas. Estou a fazer tudo aquilo que não consegui fazer durante o curso, como cursos de inglês e finanças pessoais, que sei que serão essenciais para a minha vida profissional. Também estou à procura de uma oportunidade de voluntariado internacional. Estava esgotada pela pressão e pelo trabalho acumulado durante o curso, nunca tive tempo para me dedicar a mim mesma. Dei por mim entediada, o que não me agrada. Podemos parar e abrandar o ritmo, mas nunca perder tempo, investindo em coisas que realmente acrescentam.”
5.Qual é a maior transformação que queres ver na Sara após esta pausa?
– “Espero que esta pausa me ajude a redefinir prioridades e a perceber, através de novas experiências, o que gosto de fazer e em que situações me sinto mais confortável, saindo da minha zona de conforto. Durante a universidade, focámo-nos nas competências técnicas, mas as soft skills ficam em segundo plano. Daqui a uns meses, quero sentir que aproveitei o tempo para crescer e me desenvolver. Não vou mudar quem sou, mas espero ser melhor, mais forte e construir uma carreira sólida.”